Único mamífero capaz de voar, estima-se que mais de 1.200 espécies diferentes de morcegos habitam o planeta. Essa característica peculiar despertou o interesse de 11 pesquisadores de nove instituições de quatro países, a fim de entender a física por trás da evolução da forma dos morcegos. O estudo pioneiro envolveu dois professores do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Professor do Departamento de Ecologia da UFS, Sidney Feitosa Gouveia atua em pesquisas sobre a evolução do nicho climático de espécies e nos processos espaciais e evolutivos que determinam os gradientes de diversidade em escalas regionais e global. Segundo ele, no caso dos morcegos, são animais que possuem muitos desafios para manter o equilíbrio da energia para voar.
“O gasto energético nesses animais acontece principalmente através do voo, mas também do calor perdido para o ambiente, por conta da grande superfície das asas. Os anfíbios conseguem, por exemplo, manter a temperatura corporal pelo ambiente. Isso ajuda a manter a temperatura deles equilibrada. No caso dos morcegos, isso não acontece”, explica o pesquisador.
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Foram analisadas mais de 270 espécies, com o objetivo de compreender o padrão morfológico dos mais variados grupos de morcegos. “Se conhecia muito pouco sobre a morfologia dessas espécies. Essas características do tamanho da asa de cada morcego são afetadas pela troca de calor e pelo gasto de energia. Então, a pergunta central do trabalho foi entender a física que existe na variação das asas dos morcegos,” destaca.
Para entender a evolução das espécies, os pesquisadores desenvolveram uma série de modelos chamados de mecanísticos, utilizando funções e equações matemáticas e da biofísica. “Como funciona o corpo de um morcego em termo de balanço de calor, troca de calor e como ele dissipa calor no ambiente? São essas perguntas que nos levam as equações e indicar alguns padrões e fazer predições sobre os resultados,” afirma Gouveia.
Professor do Departamento de Biologia da UFS, Pablo Ariel Martinez também assina a publicação e chama a atenção para o papel dos morcegos no equilíbrio do ecossistema. “Grande parte dos morcegos se alimentam de insetos. Eles servem como controlador de várias doenças, como o mosquito que transmite dengue, chikungunya e malária,” diz.
“Além disso, os morcegos, também por se alimentarem de frutas, acabam participando na dispersão de sementes, contribuindo para restaurar o ambiente que tem sido destruído pelo homem ao longo do tempo,” complementa o pesquisador.
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Os resultados do trabalho sobre padrões ecológicos em grandes escalas a partir de princípios físicos fundamentais foram publicados na última segunda-feira, 4, na revista científica Proceedings of National Academy of Science (PNAS), uma das mais pretigiadas do mundo.
“Apontar como podemos entender padrões ecológicos é a grande inovação dessa pesquisa, que abre portas para investigar outros padrões de diversidade, como a coloração de insetos e aves, da forma corporal e das adaptações de mamíferos. É um conhecimento sobre a biodiversidade pautado em princípios fundamentais,” ressalta Sidney.
Bruno Cavalcante - TV UFS
Josafá Neto - Rádio UFS