Com mais de 400 mil mortes desde o início da pandemia, os idosos representam cerca de 70% dos óbitos provocados pela doença no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Idade avançada e comorbidades são fatores associados aos casos mais graves da infecção, pois o envelhecimento pode gerar naturalmente a diminuição da resposta imunológica no processo chamado de imunossenescência.
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A alta mortalidade pela infecção nessa faixa etária reforça a prioridade dada na campanha de vacinação ao público acima de 60 anos de idade, a fim de garantir a proteção individual e coletiva através da indução da memória imunológica. No entanto, os estudos sobre a efetividade da imunização na população idosa ainda são escassos.
Foi a partir desse contexto que pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS) buscaram avaliar a resposta imunológica da vacina CoronaVac em 171 idosos e profissionais de instituições de longa permanência (ILPIs) do estado de Sergipe. A pesquisa foi desenvolvida pela mestra Joyceane Alves de Oliveira, sob orientação do professor Lucindo Quintans Júnior, junto ao Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da UFS. A dissertação surgiu como desdobramento da ação de monitoração de casos da doença por meio do Projeto EpiSergipe.
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"A partir do advento da vacina, criou-se a esperança que toda a população tivesse o tratamento mais apropriado para o enfrentamento da covid-19. Por isso, uma das principais preocupações no desenvolvimento de vacinas é que elas tenham mais impactos na população idosa, que naturalmente tem mais dificuldade na produção de anticorpos," explica o professor.
Resposta imunológica humoral
Inicialmente, o estudo analisou a resposta imunológica humoral por meio da produção dos anticorpos neutralizantes (NAb), após a vacinação com CoronaVac em idosos. Para isso, foram coletadas amostras de sangue em dois períodos: 30 e 90 dias após a imunização.
Comparando a produção de anticorpos entre o grupo dos idosos e os profissionais, não foram encontradas diferenças entre os indivíduos estatisticamente. Isso porque, 30 dias após a imunização, 65% dos idosos e 78% dos profissionais apresentaram anticorpos neutralizantes.
Noventa dias depois da vacinação, as diferenças entre os grupos permaneceram insignificantes, alcançando 62% dos idosos, e 70% dos profissionais. "Esses resultados mostram que o tempo de produção de anticorpos neutralizantes nos idosos foi próximo ao dos jovens. Isso só reforçar a importância da vacinação e a efetividade dos imunizantes," aponta a pesquisadora.
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Já na comparação entre os sexos, 90 dias após a vacinação, os pesquisadores observaram um aumento no percentual médio de neutralização entre as mulheres idosas e um declínio entre os homens idosos. O estudo também mostrou um declínio de anticorpos neutralizantes nos homens idosos durante os primeiros três meses após a vacinação com CoronaVac.
Resposta imunológica celular
A pesquisa também analisou a resposta imunológica celular por meio da análise do perfil leucocitário e expressão dos linfócitos T, que tem a função de auxiliar a produção de anticorpos contra o vírus. Nesse caso, foi observado um aumento dos linfócitos T CD3+ e CD4+ nos idosos vacinados em comparação aos jovens.
"Essa resposta mais prolongada das mulheres em relação aos homens pode ser explicada pelos hormônios feminino e masculino. Alguns estudos indicam que estrogênio auxilia a produção de anticorpos, enquanto a testosterona faz o caminho inverso," pontua a mestra.
Josafá Neto - Rádio UFS
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