Abel Victor | Rádio UFS - Dois projetos de pesquisa da Universidade Federal de Sergipe (UFS) estão entre as 37 propostas selecionadas na edição deste ano do programa de bolsas “Conservando o Futuro”, do Fundo Brasileiro para Biodiversidade (Funbio), em parceria com o Instituto Humanize. Ao todo, mais de R$ 1,1 milhão será distribuído para o desenvolvimento de pesquisas. O resultado da chamada pública foi divulgado no último dia 15.
A doutoranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFS, Carla Zoaid, foi selecionada com o projeto que visa desenvolver um modelo de gestão territorial para aplicação dos instrumentos da política florestal brasileira no estado. O alvo do estudo será a bacia hidrográfica do Rio Japaratuba, a partir da análise e testagem de critérios.
A pesquisa trabalha com a hipótese de que utilizar as bacias hidrográficas como Unidade de Planejamento, ao contrário dos biomas, é o modelo mais adequado para a organização do uso e a ocupação do solo e proteção da biodiversidade. Para isso, vão ser realizadas atividades, como processamento de imagem de satélite e coleta de dados em visitas de campo.
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“Com base nisso, nós vamos propor um modelo de ocupação territorial, visando a sustentabilidade futura. E responder a principal pergunta: ‘quanto de vegetação deve estar protegida dentro dessa bacia hidrográfica, com base em todo o critério que iremos testar dentro da nossa pesquisa? “, afirma a pesquisadora que se dedica ao assunto há cerca de dois anos.
Carla Zoaid destaca que a bolsa vai permitir a aquisição de computadores robustos para processamentos de dados pesados, como os de geoprocessamento, licenças de softwares para análises mais refinadas, e custeio de pesquisa de campo.“É muito importante o financiamento dessa pesquisa para que a gente possa avançar e entregar uma informação qualificada para a sociedade”, pontua a doutoranda.
A orientadora de Zoiad e professora de Ciências Florestais da UFS, Laura Jane, espera que a pesquisa inspira outros pesquisadores a trabalharem com o assunto e que “haja um avanço das ciências ambientais no sentido de equilibrar o ambiente, no caso a bacia hidrográfica, com vegetação, desenvolvimento econômico e o principal: produção de águas para garantir a sobrevivência de gerações futuras”.
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Com o projeto “Avaliação da efetividade de lagoas marginais no trecho final do médio São Francisco, estado da Bahia”, o doutorando em Ecologia e Conservação da UFS, Pedro Gargur, também conquistou uma das bolsas do Funbio. “A nossa proposta é evidenciar a importância das lagoas marginais desse último trecho do Rio São Francisco (Xique-Xique - Barra), que ainda corre livre de barramento, para a manutenção dos estoques naturais de peixes”, afirma o estudante de pós-graduação que, assim como Carla, estuda o assunto há dois anos.
Pedro Gargur afirma que, sem o apoio do Funbio, até conseguiria defender a tese, mas o trabalho não teria o grau de refinamento esperado com a bolsa. “Porque ela vai permitir que a gente trabalhe com um pouco mais de folga e até um pouco mais de ousadia no sentido de aumentar o número de coletas, adquirir equipamentos e softwares, pagamento de diária para pescador, motorista e auxiliar de campo, alimentação e combustível”, destaca o doutorando.
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Diante da redução do número de editais de financiamento na área da biologia da conservação, o orientador de Gargur e professor de Biologia da UFS, Marcelo Fulgêncio, conta que o apoio do Funbio veio em boa hora para viabilizar a pesquisa com custos elevados.
O docente ainda considera o tema como um dos pontos essenciais para seleção do seu orientando. “Será um estudo que vai gerar dados inéditos para a região, que é pouco estudada. E isso, certamente, pesou na escolha”, diz.
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Conservando o Futuro
O programa, que recebeu mais de 450 inscrições neste ano, seleciona trabalhos de estudantes de mestrado e doutorado que estudem um destes quatro eixos temáticos: conservação, manejo e uso sustentável da fauna e flora, recuperação de paisagens e áreas degradadas, gestão territorial para a proteção da biodiversidade e mudanças climáticas e conservação da biodiversidade.
Cada selecionado pode receber, de acordo com o Funbio, o valor máximo de R$ 20 mil para projetos de mestrado e R$ 38 mil para propostas de doutorado. Desde 2018, ano da primeira chamada de bolsas, já foram beneficiadas 60 iniciativas de pesquisa ligadas à conservação da natureza.
Funbio
Criado em 1996, o Fundo Brasileiro para Biodiversidade (Funbio) é “um mecanismo financeiro nacional privado, sem fins lucrativos, que trabalha em parceria com os setores governamental e privado e a sociedade civil para que recursos estratégicos e financeiros sejam destinados a iniciativas efetivas de conservação da biodiversidade”.