A professora do programa de pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Tânia Magno, faz o lançamento virtual do livro "Josué de Castro: para uma poética da fome." O evento organizado pelo Grupo de Pesquisa Itinerários Intelectuais, Imagem e Sociedade (GEPIS-UFS) acontece de forma virtual neste sábado, 2, às 19h. A obra é fruto da tese de doutorado apresentada por ela na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1998, sob a orientação do Prof. Edgar de Assis Carvalho.
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“Ao me debruçar sobre a vida e a obra do médico, sociólogo, geógrafo, educador, político e escritor Josué de Castro, foi possível compreender seu fascínio pelos trágicos quadros da fome. Fascínio que virou compromisso, compromisso que marcou toda a sua existência. Ao abrir os olhos para o mundo, nosso autor cedo se deparou com o negro lodaçal dos mangues recifenses habitados por estranhos seres: os homens caranguejos”, disse a professora.
A fome
A autora evidencia a fome como um dos retratos mais cruéis da intolerância, em especial a que perdura nos tempos de abundância e resulta do desperdício, da ganância que grassa nos nichos de riqueza, que mata lentamente, que age em surdina. Fome crônica resultante da subalimentação, fome matreira que engana os famintos que pensam que estão alimentados porque comem, ou melhor, enchem os estômagos, mas que conduz a uma morte lenta, perversa, que não faz barulho, que não incomoda, pois pode passar despercebida, mascarada por outra causa.
Tânia ainda destaca que a fome é um flagelo que atinge vastas áreas em todo o mundo, fazendo de algumas delas áreas típicas de fome e continua a ser um desafio para os governos de vários países, em que pese todo o avanço científico e tecnológico no campo da produção de alimentos e da quebra das barreiras para a circulação da mercadoria no mundo globalizado graças aos modernos meios de comunicação e transporte.
“Diante desses avanços e conquistas do mundo moderno cabe perguntar: Por que ainda vastas áreas do mundo são marcadas pela escassez de alimentos? Por que a fome continua campeando no planeta? Por que as soluções para este drama parecem ainda estar distantes de serem encontradas apesar das inúmeras campanhas e programas desenvolvidos nestas últimas décadas para acabar com este flagelo? Afinal, a fome que assola vastas áreas em todo o mundo, inclusive a realidade brasileira, resulta de que?”, indaga.
A busca de resposta para as questões acima, segundo a autora, foi o que levou Josué de Castro a dedicar uma vida inteira na busca de respostas e soluções para acabar com a fome no mundo. Seus estudos e sua intensa militância no combate a fome tornaram-no uma pessoa conhecida e respeitada mundialmente, e lhe renderam a alcunha de “caixeiro viajante da fome” e “profeta da fome” a uma alusão ao profeta bíblico.
Ela também ressalta que sua extensa obra denuncia às injustiças sociais, a herança do sistema colonialista e do imperialismo, a ganância dos países ricos e de um modelo econômico perverso que necessita da criação de imensos continentes de miséria para que possa criar suas ilhas de abundância.
“Seus escritos são um grito contra a exploração de seres humanos frente à indiferença do mundo diante da imensa procissão de miseráveis e famintos que perambulam pelos quatro cantos do planeta e clamam por justiça e pelo direito de viverem condignamente, pois como afirmou Herbert de Souza, o Betinho, a fome é a exclusão, da terra, da renda, do emprego, do salário, da educação, da economia, da vida e da cidadania, não ter o que comer, é uma espécie de cerceamento moderado ou de exílio, é a morte em vida, o exílio da Terra. A alma da fome é política”, pontua.
Juliana Almeida (GEPIS-UFS)