A história da vacinação teve início em 1796, quando o médico britânico-francês Edward Jenner observou que trabalhadoras da ordenha de vacas eram imunes à varíola. A curiosa relação chamou a atenção de Jenner que passou a observar o grupo de mulheres mais de perto. Ele descobriu que elas desenvolviam uma forma mais branda da versão bovina da varíola e, após a cura das lesões, tornavam-se mais resistentes à versão humana da doença.
Para provar sua observação, o médico inoculou o vírus da varíola bovina em um menino de oito anos. O garoto desenvolveu a infecção benigna e, em seguida, ao receber a versão humana do vírus, não adoeceu. Em 1798, Edward divulgou o estudo sobre o tema e começou a vacinar as pessoas com o material retirado das lesões das vacas, que continham o vírus.
Inicialmente, a vacina contra a varíola sofreu resistência de setores médicos e religiosos que consideravam o contato com material genético bovino uma degeneração da espécie humana. Porém, o sucesso da imunização arrefeceu as críticas e viabilizou a aceitação da tecnologia.
O avanço da tecnologia possibilitou o surgimento de novas vacinas ao longo do tempo, como a do tétano, raiva, difteria, tuberculose e febre amarela. Com isso, a vacinação se consolidou como uma estratégia de saúde através de programas de imunização.
No Brasil, 9 de junho marca o Dia Mundial da Imunização. De acordo com o Ministério da Saúde, atualmente o país garante o acesso gratuito da população a cerca de 20 vacinas, por meio do Programa Nacional de Imunização. Uma delas é a vacina contra a covid-19.
Com experiência em testes pré-clínicos de desenvolvimento de vacinas e fármacos, o professor do Departamento de Educação em Saúde da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Diego Moura Tanajura, destaca que os programas de vacinação juntamente com o saneamento básico revolucionaram a saúde pública.
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"Os dois são importantes para reduzir drasticamente o número de óbitos por doenças infecciosas e permitirem uma maior longevidade da nossa população. A vacinação serve para evitar uma doença ou diminuir seus efeitos em uma pessoa. Além disso, através da vacinação em massa, conseguimos proteger as pessoas que por algum motivo de saúde não podem tomar vacinas. Essa proteção é conhecida como imunidade de rebanho ou coletiva," explica o pesquisador.
Antídoto para desinformação
Tanajura ainda ressalta o desafio de combater a circulação de informações falsas que historicamente afetam as campanhas de vacinação, especialmente quanto às reações adversas dos imunizantes. Como antídoto para a desinformação, ele recomenda a intensificação das ações de conscientização.
"As informações falsas sobre as reações adversas em vacinas não é algo novo. Na pandemia de 2009, também tivemos que fazer uma campanha de informação e combate às notícias falsas. Naquela época era falado que a vacina causaria autismo. Hoje sabemos que não existe nenhuma comprovação científica sobre essa relação. Diversos trabalhos foram desenvolvidos e nenhum mostrou a existência da relação entre tomar vacinas e desenvolver autismo," pontua o professor.
Vacinas contra covid-19
No contexto da pandemia do novo coronavírus, o professor considera que a falta de hábito de tomar a vacina na idade adulta é um dos motivos para o estranhamento da população aos imunizantes. Isso porque a maioria das vacinas são aplicadas ainda na infância, a fim de prevenir o aparecimento de doenças já nos primeiros anos de vida da pessoa.
"Ter algum tipo de reação é algo muito comum em vacinas. Isso acontece porque algo estranho está sendo inoculado em nosso corpo e o sistema imunológico acaba montando uma estratégia de defesa contra os componentes da vacina. É através dessa resposta que o nosso corpo aprende a se defender contra os microorganismos. Algumas pessoas respondem com mais intensidade e, por isso, acabam tendo sintomas como febre, dor de cabeça, dor no braço, dor muscular e etc," diz o pesquisador.
"É importante destacar que a ausência de reação não significa que a vacina não funcionou. A vacina contra o tétano, por exemplo, pode gerar muita dor no local da aplicação. A vacina BCG, contra a tuberculose, causa uma pequena lesão no local da aplicação e depois vira uma eterna cicatriz. A da gripe pode dar febre. Entretanto, podem ter certeza que todas essas reações são muito mais leves do que não tomar a vacina e acabar desenvolvendo a doença," complementa.
Por que se vacinar?
Por ocasião da data que reforça a importância da imunização no país, Diego Tanajura também faz um alerta sobre as consequências da baixa adesão aos programas de vacinação diante do risco de novos surtos de doenças.