Abel Victor e Josafá Neto | Rádio UFS - A Universidade Federal de Sergipe (UFS) divulgou, nesta quarta-feira, 5, os resultados da primeira fase da ação de monitoração de casos da covid-19 no estado no âmbito do Projeto EpiSergipe. Foram realizados 5.615 testes rápidos nas zonas urbanas e rurais de 15 municípios no mês de julho.
Dividido em três fases, o projeto realizará, ao todo, 15 mil testes rápidos para verificar a prevalência da doença na capital e interior do estado. Como o objetivo é acompanhar o nível de contaminação ao longo do tempo, 60 professores, técnicos e alunos da UFS envolvidos na iniciativa vão revisitar os municípios nos meses de agosto e setembro.
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59,7% (3.352) das pessoas testadas na fase inicial são do sexo feminino e 40,3% (2.262) do sexo masculino, nas faixas etárias de 0 a 19 anos (10,8%), 20 a 59 (67,6%) e acima de 60 (20,8%). Desse total, 652 pessoas apresentaram resultado positivo para o novo coronavírus por meio do teste rápido, indicando uma taxa de prevalência de 11,6%, sendo a maioria de mulheres (66,1%), e com idade entre 20 e 59 anos (68,6%).
“Já estamos em uma fase da doença bem avançada ainda, em torno de 11%, o que é um número relevante, que demonstra que a população já teve contato com o vírus. Nesses 15 municípios, o comportamento não é igual. A gente sabe que isso acontece nos estados. Começa em algumas regiões e depois a tendência é de avanço para o interior”, afirmou o coordenador do projeto de monitoração, professor Adriano Antunes.
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Essas 652 pessoas que positivaram no teste rápido tiveram o sangue coletado para a confirmação do resultado através do teste de sorologia. Por meio do método de imunofluorescência, 520 exames apresentaram resultado positivo para a detecção de anticorpos para o novo vírus respiratório (SARS-CoV-2) e 99 foram negativos.
Na sorologia, 500 amostras sinalizaram para o tipo IgG+, o que aponta para possibilidade da pessoa estar imune, 2 para IgM+, indicando a doença na fase inicial, e 18 pessoas entre IgG+ e IgM+. Esses dados indicam uma soroprevalência de 9,3%, com maior incidência no sexo feminino (10,2%), e em pessoas de 0 e 19 anos (9,9%).
O coordenador ainda afirmou que o inquérito epidemiológico deve ser lido dentro de um espectro temporal, ou seja, de acordo com o período de análise do estudo a partir das datas de coleta. O pesquisador ainda chama à atenção para três municípios com alta prevalência no mês passado: Propriá, 20%, São Cristóvão, 16% e Lagarto, 14%.
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Diferentemente de estimativas de que a população assintomática é de 80%, o EpiSergipe mostra que, no estado, a porcentagem de pessoas que não apresentam sintomas é de 41,2%. Já os sintomáticos são estimados em 58,8%. Os sintomas mais frequentes são: dor de cabeça (24%), perda de paladar e olfato (24%) e tosse (19%).
Os pesquisadores da UFS concluíram, ao final da primeira etapa, que o nível de infecção varia entre os municípios e que a taxa de prevalência caiu até 20% nas cidades mais afetadas inicialmente na primeira, segunda e terceira ondas de infecção.
“Vale destacar também que, diferente de outros inquéritos populacionais, os quais a busca não leva em consideração a questão da aleatoriedade e da representatividade da amostra, ou seja, muitas vezes, nem todos quando são feitos em praças ou supermercados, como são feitos em outros países, nem todas as pessoas têm a mesma chance de serem testadas," complementou o professor Adriano Antunes.
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Iniciativa multidisciplinar
O coordenador do Laboratório de Patologia Investigativa da UFS, professor Paulo Ricardo Martins Filho, destacou que "os resultados do projeto já estão sendo utilizados no planejamento estratégico dos órgãos competentes para enfrentamento à pandemia. E também estão sendo publicados em importantes revistas científicas internacionais, mostrando, assim, a importância da UFS na produção do conhecimento científico.”
O vice-reitor da UFS, professor Valter Santana, enalteceu o empenho de alunos e professores nos projetos da UFS durante a crise sanitária. Ele também afirmou que espera “esse projeto continue guiando e auxiliando o Governo do Estado na condução dessa pandemia e que a gente possa trazer bons frutos para a população sergipana”.
O diretor de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, professor Marco Aurélio Goés, salientou que o estudo ajuda a entender o desenvolvimento da epidemia. “A gente precisa, de fato, desse tipo de pesquisa, feita pelo grupo e pela UFS. A gente parabeniza e agradece pelos resultados. São resultados que nos ajudam, principalmente, nesse momento, de pressão, com a retomada de setores produtivos.”
O pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da UFS, professor Lucindo Quintans, ressaltou que o EpiSergipe é um projeto multi e interdisciplinar por envolver várias áreas de conhecimento para produção de pesquisas, vídeos e materiais preventivos sobre a pandemia. “Esse projeto foi construído por muitas mãos, mas, sem o envolvimento da sociedade sergipana, isso é impossível de ser realizado”, frisou.
Projeto EpiSergipe
A Universidade Federal de Sergipe firmou uma parceria com o Governo de Sergipe para o desenvolvimento de um projeto que visa acompanhar o grau de contaminação e os impactos do coronavírus em Sergipe. O investimento será de R$ 4.160.000,00.
Além do monitoramento de casos, a iniciativa, com duração prevista de um ano, visa identificar os impactos socioeconômicos, em virtude da pandemia, através de uma proposta de simulação e acompanhamento de três modalidades de crimes: homicídios, roubos e furtos e violência doméstica, e a evolução da doença nas populações vulneráveis, a carcerária, adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, população de rua e idosos que vivem em Instituições de Longa Permanência.