O aumento de casos confirmados do novo coronavírus em Sergipe está associado à queda do índice de isolamento social no estado desde o início da epidemia. É o que mostra o estudo publicado na manhã desta sexta-feira, 15, pelo professor do Departamento de Educação em Saúde e coordenador do Laboratório de Patologia Investigativa da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Paulo Ricardo Martins Filho.
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O pesquisador relaciona a diminuição do percentual de pessoas isoladas a partir do final de março ao crescimento diário de casos no estado desde o início de maio. Ele analisou os dados do mapa de isolamento social desenvolvido pela Inloco e o número de casos acumulados da doença, de acordo com os boletins epidemiológicos da Secretaria de Estado da Saúde, no período de 21 de março a 13 de maio deste ano.
"A partir do dia 30 de março, houve um decréscimo progressivo nos índices de isolamento, sendo registrados valores superiores a 50% em apenas dois dias: 05 de abril (51.5%) e 19 de abril (50.9%). Esse índice, ao final desta série temporal, foi de 42.2%, havendo registro de 2.268 casos confirmados de covid-19 no estado, e um aumento percentual médio diário de 15% no número de casos acumulados a partir do início do mês de maio. Foi observada uma relação inversa e estatisticamente significante entre os índices de isolamento social e o número de casos novos," afirma.
Com 42,2% de índice de isolamento, Sergipe tem o pior percentual da região Nordeste, ocupando apenas a 17ª posição no ranking da Inloco entre os estados brasileiros.
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A conclusão do estudo é que o índice mínimo de isolamento necessário, no momento, para desacelerar o avanço da doença e vislumbrar o declínio da curva epidêmica é de 52,3%. "Essa pesquisa demonstra a importância e a necessidade da melhora dos índices de isolamento social para que haja a redução no número de casos," explica.
O pesquisador diz ainda que "o aumento dos índices de isolamento, através de medidas mais rígidas de controle e transmissão de doença e a otimização das campanhas para uma maior conscientização da população em relação a isso, também deverá repercutir no número de óbitos e na prevenção do colapso do sistema de saúde, juntamente com a ampliação dos leitos disponíveis para atender casos graves."
Martins também reforça a importância do comportamento individual para controlar a propagação do novo vírus respiratório, incluindo os cuidados quanto à higiene das mãos, o uso de máscara de proteção respiratória e o distanciamento social. Ele afirma ainda que "são primordiais as ações do governo no sentido de proibir aglomerações e fornecer boas instalações de diagnóstico, acesso imediato e tratamento especializado para pessoas com as formas graves da doença. Desta forma, sem o fortalecimento das medidas de controle e as mudanças no comportamento da população, é provável que o número de casos continue crescendo e ocorra a saturação precoce do nosso sistema de saúde, com o aumento substancial no número de mortes," pontua o pesquisador.
Ocupação de leitos
Outro estudo publicado pelo pesquisador havia projetado a ocupação de 100% dos leitos de UTI exclusivos para pacientes com covid-19 no estado no prazo de oito dias. Nesta quinta-feira, 14, segundo a SES, o percentual de pessoas internadas em terapia intensiva era 57,5%. Caso não houvesse a ampliação do número de leitos nas redes pública e privada de 85 para 129 nos últimos dias, hoje a ocupação seria de 90%.
Quem é o autor?
Paulo Martins tem experiência em epidemiologia, estatística, revisões sistemáticas e meta-análises em saúde. Ele reúne mais de 100 publicações em revistas científicas internacionais. Professor do Departamento de Educação em Saúde do campus de Lagarto, e chefe do Laboratório de Patologia Investigativa do Hospital Universitário de Aracaju. Também é professor dos programas de pós-graduação em Odontologia e em Ciências da Saúde, além de atuar no Núcleo de Pós-graduação em Medicina da UFS.
Por Josafá Neto