Viralizou nas redes sociais uma imagem meramente ilustrativa de uma onda gigante atingindo uma das praias mais tradicionais de Aracaju, a Atalaia. A narrativa sobre o risco de um tsunami atingir o litoral nordestino surgiu na última quinta-feira, 16, após a emissão do sinal de alerta amarelo para a possibilidade de erupção do vulcão La Cumbre Vieja, localizado na ilha de La Palma, nas Ilhas Canárias, próximo à costa africana e a mais de 4 mil km do litoral brasileiro.
A chance de o Brasil ser atingido por um tsunami nessa circunstância não é impossível, mas é altamente improvável. É o que diz a professora do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Adriane Machado. Ela desenvolve pesquisas nas áreas de mineralogia, geoquímica e petrologia, com ênfase no estudo de rochas vulcânicas, incluindo ilhas oceânicas.
“Para que exista a possibilidade do tsunami ocorrer, é necessário que o vulcão La Cumbre Vieja entre em erupção e que a magnitude dessa erupção seja suficiente para causar o colapso do edifício vulcânico. E ainda que o material proveniente do desmantelamento deslize para dentro do mar,” destaca a pesquisadora.
“Neste cenário, haveria a possibilidade de gerar um tsunami, muito provavelmente, de abrangência localizada. Alguns modelamentos matemáticos realizados por pesquisadores estrangeiros apontam uma estimativa da ordem de 500 km³ de material vulcânico que seria lançado ao mar,” complementa.
Possibilidade de megatsunami
A professora pontua que a erupção por si só não seria capaz de gerar o colapso do vulcão. A preocupação, no caso do La Cumbre Vieja, está numa falha no flanco oeste do vulcão, uma zona de fraqueza que afeta a estabilidade do edifício vulcânico. Nisso, a erupção contribuiria para desestabilizar ainda mais a encosta do vulcão, acelerando o desmantelamento.
Ela ainda ressalta que um megatsunami no Oceano Atlântico só seria gerado por um terremoto de grande magnitude, que não estaria associado a uma erupção vulcânica, embora se admita que o colapso de material vulcânico possa originar ondas muito grandes, mas com um raio de ação curto.
“Se de fato um megatsunami ocorresse, o que é muito improvável, segundo os cálculos e simulações apresentados em modelamentos matemáticos publicados, a costa aracajuana e o litoral sergipano seriam afetados, assim como toda a costa brasileira, e também, a costa africana, o Caribe, entre outros locais,” afirma.
Alertas sísmicos
O Instituto Geográfico Nacional da Espanha registrou mais de 4 mil tremores no Parque Nacional Cumbre Vieja, em torno do vulcão. Recentemente, além do aumento do volume de movimentos sísmicos, a intensidade cresceu com abalos que alcançaram magnitude superior a 3.
O sinal de alerta amarelo emitido pelas autoridades espanholas no caso do La Cumbre Vieja é considerado comum em regiões com vulcões ativos. Nesses locais, de acordo com a professora, a população costuma ser treinada para entender o significado dos avisos.
“Este alerta significa que as informações prestadas à população serão reforçadas, bem como as medidas de vigilância e monitorização da atividade vulcânica e sísmica. A partir do alerta amarelo, a monitorização é ampliada e qualquer mudança significativa será comunicada. A população deve ficar atenta às informações prestadas pelas autoridades de proteção civil,” esclarece.
Vulcanismo no Brasil
Atualmente não existe vulcanismo ativo no Brasil. A professora lembra que o vulcanismo mais recente no país se formou as Ilhas Oceânicas do Brasil. São elas: Fernando de Noronha, Trindade, Martin Vaz, São Pedro e São Paulo, situadas na área denominada de Amazônia Azul. No caso de Fernando de Noronha, as rochas vulcânicas têm idades variando de 12 a 1,3 Ma.
Josafá Neto
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