Sex, 17 de setembro de 2021, 08:58

“Improvável”, diz pesquisadora da UFS sobre risco de tsunami atingir Sergipe com erupção de vulcão
Professora de Geologia esclarece dúvidas sobre tema que viralizou na internet
Vulcão La Cumbre Vieja, localizado na ilha de La Palma, no arquipélago das Canárias. Foto: Reprodução/Nasa
Vulcão La Cumbre Vieja, localizado na ilha de La Palma, no arquipélago das Canárias. Foto: Reprodução/Nasa

Viralizou nas redes sociais uma imagem meramente ilustrativa de uma onda gigante atingindo uma das praias mais tradicionais de Aracaju, a Atalaia. A narrativa sobre o risco de um tsunami atingir o litoral nordestino surgiu na última quinta-feira, 16, após a emissão do sinal de alerta amarelo para a possibilidade de erupção do vulcão La Cumbre Vieja, localizado na ilha de La Palma, nas Ilhas Canárias, próximo à costa africana e a mais de 4 mil km do litoral brasileiro.

A chance de o Brasil ser atingido por um tsunami nessa circunstância não é impossível, mas é altamente improvável. É o que diz a professora do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Adriane Machado. Ela desenvolve pesquisas nas áreas de mineralogia, geoquímica e petrologia, com ênfase no estudo de rochas vulcânicas, incluindo ilhas oceânicas.

“Para que exista a possibilidade do tsunami ocorrer, é necessário que o vulcão La Cumbre Vieja entre em erupção e que a magnitude dessa erupção seja suficiente para causar o colapso do edifício vulcânico. E ainda que o material proveniente do desmantelamento deslize para dentro do mar,” destaca a pesquisadora.

“Neste cenário, haveria a possibilidade de gerar um tsunami, muito provavelmente, de abrangência localizada. Alguns modelamentos matemáticos realizados por pesquisadores estrangeiros apontam uma estimativa da ordem de 500 km³ de material vulcânico que seria lançado ao mar,” complementa.

Possibilidade de megatsunami

A professora pontua que a erupção por si só não seria capaz de gerar o colapso do vulcão. A preocupação, no caso do La Cumbre Vieja, está numa falha no flanco oeste do vulcão, uma zona de fraqueza que afeta a estabilidade do edifício vulcânico. Nisso, a erupção contribuiria para desestabilizar ainda mais a encosta do vulcão, acelerando o desmantelamento.


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Ela ainda ressalta que um megatsunami no Oceano Atlântico só seria gerado por um terremoto de grande magnitude, que não estaria associado a uma erupção vulcânica, embora se admita que o colapso de material vulcânico possa originar ondas muito grandes, mas com um raio de ação curto.

“Se de fato um megatsunami ocorresse, o que é muito improvável, segundo os cálculos e simulações apresentados em modelamentos matemáticos publicados, a costa aracajuana e o litoral sergipano seriam afetados, assim como toda a costa brasileira, e também, a costa africana, o Caribe, entre outros locais,” afirma.

Alertas sísmicos

O Instituto Geográfico Nacional da Espanha registrou mais de 4 mil tremores no Parque Nacional Cumbre Vieja, em torno do vulcão. Recentemente, além do aumento do volume de movimentos sísmicos, a intensidade cresceu com abalos que alcançaram magnitude superior a 3.

O sinal de alerta amarelo emitido pelas autoridades espanholas no caso do La Cumbre Vieja é considerado comum em regiões com vulcões ativos. Nesses locais, de acordo com a professora, a população costuma ser treinada para entender o significado dos avisos.

“Este alerta significa que as informações prestadas à população serão reforçadas, bem como as medidas de vigilância e monitorização da atividade vulcânica e sísmica. A partir do alerta amarelo, a monitorização é ampliada e qualquer mudança significativa será comunicada. A população deve ficar atenta às informações prestadas pelas autoridades de proteção civil,” esclarece.

Vulcanismo no Brasil

Atualmente não existe vulcanismo ativo no Brasil. A professora lembra que o vulcanismo mais recente no país se formou as Ilhas Oceânicas do Brasil. São elas: Fernando de Noronha, Trindade, Martin Vaz, São Pedro e São Paulo, situadas na área denominada de Amazônia Azul. No caso de Fernando de Noronha, as rochas vulcânicas têm idades variando de 12 a 1,3 Ma.

Josafá Neto

comunica@academico.ufs.br


Atualizado em: Sex, 17 de setembro de 2021, 09:05
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