Quinta-feira. 25 de setembro de 2014. O ronco dos tratores em um canavial no interior de Sergipe se confundiu com uma prática antiga e silenciosa que se espalha em lavouras de todo o Brasil. Naquele dia, uma denúncia do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Capela, no leste sergipano, deu início ao caso mais emblemático da luta contra o trabalho escravo contemporâneo nas últimas décadas no Estado.
A acusação levou equipes do Ministério Público do Trabalho, da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Federal à Usina Taquari, no povoado Miranda, na zona rural do município, onde mais de 40 trabalhadores foram encontrados em situação degradante.
O resgate desse grupo de cortadores de cana-de-açúcar aumentou uma estatística que assusta o país. Mais de 50 mil pessoas foram encontradas nessa condição no Brasil, entre os anos de 1995 e 2015, de acordo com um levantamento divulgado pela ONG Repórter Brasil, ao analisar dados do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE.
O caso chamou a atenção de pesquisadores do curso de Direito da Universidade Federal de Sergipe (UFS), que criaram o GETEC - Grupo de Estudos sobre Trabalho Escravo Contemporâneo. A equipe é coordenada pela professora Shirley Andrade, que investiga o assunto sob a ótica do que ela define como trabalho escravo invisível.
"É um assunto que não é muito conversado em Sergipe, que sempre foi o único estado brasileiro que não consta o registro de trabalho escravo nos dados do Ministério do Trabalho. Isso é extremamente esquisito e me inquietou," ressaltou a pesquisadora.
ATENÇÃO: Trata-se de uma série de reportagens com sons em 360º. Por isso, sugerimos usar fones de ouvido para a percepção da espacialidade binaural do aúdio.