Qui, 13 de setembro de 2018, 18:18

Estudo alerta para extinção de 2/3 dos primatas do mundo até fim do século
Crise de extinção afeta macaco conhecido da Mata Atlântica de Sergipe: Guigó

Quase dois terços das espécies de primatas do mundo - que se concentram em apenas quatro países: Brasil, Madagascar, Indonésia e Congo - estão em crise de extinção. Nesta lista aparece o Guigó, um macaco conhecido por habitar territórios de Mata Atlântica em Sergipe, como a Mata do Junco, no município de Capela, na região leste do Estado. É o que revela um estudo publicado na revista científica PeejR.

A pesquisa mobilizou vinte e sete cientistas de nove países, incluindo oito pesquisadores brasileiros, e alerta para a necessidade de um esforço global para a preservação, principalmente de chimpanzés e orangotangos. Ao todo, 493 espécies de primatas habitam territórios em 90 países em todo o mundo, de acordo com levantamento da União Internacional para a Conservação da Natureza - IUCN.

Essa ameaça à biodiversidade é resultado da atividade humana. É o que afirma um dos autores da pesquisa e professor de Ecologia da Universidade Federal de Sergipe, Sidney Gouveia. "Essa revisão traz o conflito que existe entre várias atividades humanas e a distribuição e a diversidade atual de primatas, com a expansão agrícola como um dos principais causadores do desmatamento, gerando a perda de habitat para essas espécies. Em cada país, existe um propulsor diferente. No Brasil, principalmente é o desmatamento para a expansão agrícola da soja," pontuou.


Profº Sidney Gouveia é um dos autores do estudo. Foto: Dionísio Neto/Rádio UFS
Profº Sidney Gouveia é um dos autores do estudo. Foto: Dionísio Neto/Rádio UFS

No caso do país que busca na expansão agropecuária a solução para a crise econômica, o pesquisador ressalta a existência de áreas que são consideradas subutilizadas.“ O ideal seria que essas áreas que já estão modificadas, que tem potencial agrícola e estão subutilizadas, sofressem com maior intensificação do uso para agricultura, de maneira a aliviar a tensão sobre as áreas naturais,” explicou.

O estudo aponta ainda que a maioria das populações de primatas no mundo carece de áreas de proteção. No Brasil, somente 35% das espécies estão nesses locais.


A expansão projetada de agricultura e pastagens no (A) Brasil, (B) Congo, (C) Madagascar, e (D) Indonésia. Fonte: doi.org/10.7717/peerj.4869/fig-3
A expansão projetada de agricultura e pastagens no (A) Brasil, (B) Congo, (C) Madagascar, e (D) Indonésia. Fonte: doi.org/10.7717/peerj.4869/fig-3

A ameaça também mira primatas que habitam regiões específicas do país. Em Sergipe, segundo o pesquisador, duas espécies correm risco de extinção: o Guigó e o Prego.

Descoberto há cerca de vinte anos em áreas de Mata Atlântica de Sergipe e da Bahia, o Guigó já é considerado extinto em pelo menos 14 dos 125 fragmentos de área onde foi encontrado nos dois estados, segundo o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade.

O secretário de Meio Ambiente de Sergipe, Olivier Chagas, afirma que existe um esforço para preservação desses territórios. “Temos feito um esforço para zerar o desmatamento ilegal dentro da Mata Atlântica, acompanhando inclusive uma política nacional da SOS Mata Atlântica, em função também da lei de proteção, que é uma lei federal. Temos buscado fazer essa preservação e ampliação,” afirmou o secretário.

Diante da possibilidade de desaparecimento desses primatas, Sidney Gouveia acende o alerta para o papel das floretas. “Os primatas desempenham um papel ecológico extremamente importante, principalmente na dispersão de sementes de árvores em estágios avançados, de estágios maduros de floretas. Se essas espécies desaparecem, a manutenção dessas florestas é comprometida, e eles são sentinelas das florestas tropicais, são os canários da mina. Um dos primeiros indicativos de que aquela floresta vai mal em termos de proteção e capacidade de se manter,” finalizou.

A conclusão é que se o homem continuar a poluir e degradar os ambientes, os ecossistemas não serão apropriados para os seres humanos já nas próximas décadas.


Ouça aqui a reportagem completa em formato de áudio. Reprodução: TV UFS

Atualizado em: Ter, 18 de setembro de 2018, 14:48